08 abril 2017

Sê Um Templo De Deus

Introdução
“Ora em ti mesmo: sê um templo de Deus”. Esta frase, de Agostinho, nos lembra a importância da vida pautada pela oração. Oração como encontro com Deus. E esse encontro não precisa ter hora marcada e nem lugar definido, pois o “templo” está acessível 24 horas por dia, e não exige deslocamento. Perceber a oração como como oportunidade de relacionamento, de amizade com Deus, é um desafio para todos nós. Como o artigo do Ricardo nos lembra, influenciados que somos  pela impessoalidade e pelo pragmatismo de nossa cultura, acabamos transferindo para a oração a superficialidade e a funcionalidade que caracterizam nossos relacionamentos humanos. Assim, a oração deixa de ser o exercício de conhecer e ser conhecido por Deus, e se torna o esforço para alcançar alguma benção ou benefício.
Na tradição cristã o livro de Salmos pode ser visto como uma “escola de oração”, pois nos convida a experimentar a oração como um caminho de relacionamento autêntico com Deus, desnudamento diante dele os nossos pensamentos e sentimentos que ele já conhece, mas nós muitas vezes não! Portanto, essa amizade com Deus proporciona um caminho de autoconhecimento, que por sua vez nos conduzirá, aos poucos, para a maturidade no relacionamento com o próximo. Como você tem desenvolvido a prática da oração em sua vida? Aliás, antes até, você tem desenvolvido uma prática de oração? Isso tem tido o peso de uma obrigação ou a leveza de uma amizade com Alguém?
Para entender o que a Bíblia fala
Leia cuidadosamente o Salmo 131, preferencialmente em voz alta e mais de uma vez. Procure se apropriar dos sentimentos trazidos à tona pelo salmista. Se você tivesse que dar um título para esta oração, expressando sua essência, qual seria?
No primeiro versículo deste salmo encontramos duas divisões, como uma parte (a) e uma parte (b). Em cada uma delas, Davi apresenta sua rejeição a um pecado específico. Quais são eles, e por que esses pecados seriam empecilhos para o relacionamento do salmista com Deus e com o próximo?
Talvez alguns leitores, ao lerem este primeiro verso (principalmente a parte (b)), considerem a atitude do salmista como uma desculpa para não enfrentar os grande desafios da vida. Você concordaria com esta posição? Por quê?
No v. 2 Davi começa deixando bem claro que tomou um caminho diferente daquele deixado para trás no v. 1. Por exemplo, na tradução da Bíblia de Jerusalém, temos: “Não! Fiz calar e repousar meus desejos, como criança desmamada no colo de sua mãe…”. Como ele conseguiu fazer isso? Por que ele compara seu novo estado com uma “criança recém amamentada por sua mãe” (NVI)? Qual o desejo de um neném recém amamentado?
Ao fazer esta comparação (v. 2), o que Davi revela sobre o seu relacionamento com Deus? O que ele buscava, ou desejava, de fato?
No final, esta oração profundamente pessoal se torna comunitária (v. 3). Este tema da “esperança em Deus” é retomado por Isaías em sua profecia (66. 10-13), utilizando a mesma figura de linguagem. O que significava (e significa), em termos práticos, colocar a nossa “esperança no Senhor”?
Hora de Avançar
A comunhão com Deus por meio da oração é expressão do conhecimento de Deus. Quem conhece a Deus ora. À medida que o conhecemos mais, nossas orações tornam-se mais pessoais e a amizade com Deus cresce. Assim, nós amadurecemos. Nossos corações e afetos mudam. Seguimos apresentando a Deus nossas súplicas por proteção, mas nos despertamos para perceber que o que mais desejamos é cultivar a amizade com a Trindade Santa, agradá-la cada vez mais e refletir seu caráter. (Ricardo Barbosa)
Para pensar
Seria muito proveitoso, dentro do possível, lermos o Salmo 131 em várias versões, pois isso enriqueceria nossa compreensão. A título de exemplo, e como ajuda, cito aqui o v. 1 como apresentado na Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH – Sociedade Bíblica do Brasil): “Ó Senhor Deus, eu já não sou orgulhoso; deixei de olhar os outros com arrogância. Não vou atrás das coisas grandes e extraordinárias que estão fora do meu alcance”. É interessante também pensarmos na trajetória de Davi, nos altos e baixos de sua vida, e perceber a maturidade espiritual que ele atinge nesta oração de profunda intimidade e confiança. Ânimo! Também podemos chegar neste ponto, apesar de nossos altos e baixos.
O que disseram
A oração de “pequena” fé é repleta de desejos imediatistas… [Nesta oração] a solidez dos desejos elimina possibilidade de esperança… Essa oração visa receber aquilo que pede, de qualquer maneira, em vez de ser dirigida à pessoa que pode ou não tornar esse desejo uma realidade. A pessoa de pouca fé ora como uma criança que quer um presente de Papai Noel, mas que fica assustada e foge assim que coloca as mãos no embrulho. A rigor, ela não gostaria de ter qualquer relação com o velho barbudo. Toda a atenção está na doação, não no doador.
(Henri Nouwen, Meditações com Henri Nouwen, Editorial Habacuc, 2003, n. 66)
Para responder
O orgulho e a arrogância são como duas faces da mesma moeda. De um lado, nos vemos como superiores aos outros, e do outro lado vemos as pessoas como inferiores a nós. De todo modo nós somos sempre melhores e mais capazes do que os demais. E esses sentimentos normalmente surgem em espaços de multidão e competição, ainda que “religiosos”. A oração pessoal, num ambiente de quietude e silêncio, tem sido uma prática frequente em sua vida? Nesses momentos, a sós com Deus, você consegue “desarmar” os artifícios de comparação com as outras pessoas?
Hipoteticamente, se de repente você ficasse totalmente impedido de praticar a oração, do que você sentiria mais falta: do relacionamento e amizade com Deus, ou da possibilidade de ver suas necessidades atendidas?
Eu e Deus
Ó Senhor, como devem ser alegres e felizes aqueles que, ao considerar a si próprios, não encontram neles nada mesmo de especial. Não somente não chamam a atenção de ninguém, mas agora já não acalentam desejos ou interesses egoístas para chamar a atenção para si próprios. Eles não descobrem virtudes e são entristecidos por pecados não muito grandes; eles veem somente sua própria fraqueza pouco notável e o seu nada, mas um nada que obscuramente está repleto não de si próprios, mas do Teu amor, Ó Deus! Eles são pobres em espírito e possuem dentro de si próprios o reino do céu, pois deixaram de ser notáveis até para si próprios. Mas neles brilha a luz de Deus e eles mesmos e todos que a veem, Te glorificam, Ó Deus! 
Paz em Cristo a todos. (Thomas Merton, Diálogos com o Silêncio, Fissus, 2003)
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