“A
MENTIRA SOBRE A SANTIDADE DO DIABO”
Os
cristãos tradicionalmente identificam o nome Lúcifer com a
personificação bíblica do diabo, ou Satanás. O termo Lúcifer
ocorre apenas duas vezes nas escrituras judaico-cristãs, uma no
Velho Testamento (VT) e outra no Novo Testamento (NT). O termo
hebraico utilizado no VT é Halal, enquanto o termo grego utilizado
no NT é Phosphoros. Entre os primeiros a chamar o diabo de Lúcifer
estão Orígenes e Tertuliano, que viveram no primeiro período da
história da Igreja conhecido como patrística, entre os anos 100 e
300 AD.
A
palavra latina Lúcifer, possui exatamente o mesmo significado que o
termo hebraico Halal e o termo grego Phosphoros. Significam “portador
de luz” e se referem especificamente ao planeta Vênus, quando
surge no horizonte matutino antes do nascer do Sol. Vênus também é
chamado de estrela da manhã ou estrela da alva, expressões que
podem ser consideradas equivalentes à Lúcifer. Examinemos
primeiro a passagem do VT, Isaías 14:12, a fim de verificar se esta
realmente se refere ao diabo ou não:
“Como
caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste
lançado por terra tu que prostravas as nações!” -Isaías
14:12
A
princípio, quando lida isoladamente, tudo parece indicar que a
passagem pode estar se referindo ao diabo. Porém, um exame mais
cuidadoso da passagem, em seu contexto original, elimina tal
possibilidade:
“No
dia em que Deus vier a dar-te descanso do teu trabalho, e do teu
tremor, e da dura servidão com que te fizeram servir, proferirás
esta parábola contra o rei de Babilônia, e dirás: Como cessou o
opressor! Como cessou a tirania! Já quebrantou o Senhor o bastão
dos ímpios e o cetro dos dominadores; cetro que feria os povos com
furor, com açoites incessantes, e que em ira dominava as nações
com uma perseguição irresistível. Toda a terra descansa, e está
sossegada! Rompem em brados de júbilo. Até as faias se alegram
sobre ti, e os cedros do Líbano, dizendo: Desde que tu caíste
ninguém sobe contra nós para nos cortar. O Sheol desde o profundo
se turbou por ti, para sair ao teu encontro na tua vinda; ele
despertou por ti os mortos, todos os que eram príncipes da terra, e
fez levantar dos seus tronos todos os que eram reis das nações.
Estes todos responderão, e te dirão: Tu também estás fraco como
nós, e te tornaste semelhante a nós. Está derrubada até o Sheol a
tua pompa, o som dos teus alaúdes; os bichinhos debaixo de ti se
estendem e os bichos te cobrem. Como caíste do céu, ó estrela da
manhã, filha da alva! Como foste lançado por terra tu que
prostravas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao
céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da
congregação me assentarei, nas extremidades do norte; subirei acima
das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo
levado serás ao Sheol, ao mais profundo do abismo. Os que te virem
te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o varão que
fazia estremecer a terra, e que fazia tremer os reinos? Que punha o
mundo como um deserto, e assolava as suas cidades? que a seus cativos
não deixava ir soltos para suas casas? Todos os reis das nações,
todos eles, dormem com glória, cada um no seu túmulo. Mas tu és
lançado da tua sepultura, como um renovo abominável, coberto de
mortos atravessados a espada, como os que descem às pedras da cova,
como cadáver pisado aos pés. Com eles não te reunirás na
sepultura; porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo. Que a
descendência dos malignos não seja nomeada para sempre! Preparai a
matança para os filhos por causa da maldade de seus pais, para que
não se levantem, e possuam a terra, e encham o mundo de cidades.
Levantar-me-ei contra eles, diz o Senhor dos exércitos, e
exterminarei de Babilônia o nome, e os sobreviventes, o filho, e o
neto, diz o Senhor. E reduzi-la-ei a uma possessão do ouriço, e a
lagoas de águas; e varrê-la-ei com a vassoura da destruição, diz
o Senhor dos exércitos”. -Isaías 14:3-23
Ao
examinarmos a passagem a partir do versículo 3 até o versículo 23,
fica evidente que o oráculo em questão se refere ao rei da
Babilônia e seu império. O termo hebraico Halal, que em latim é
Lúcifer, descreve o rei da Babilônia, Nabucodonosor. A
identificação está explícita nos versículos 14:4 e 14:22, como
vemos a seguir:
"proferirás
esta parábola contra o rei de Babilônia, e dirás: Como cessou o
opressor! como cessou a tirania!"
-Isaías
14:4
“Levantar-me-ei
contra eles, diz o Senhor dos exércitos, e exterminarei de Babilônia
o nome, e os sobreviventes, o filho, e o neto, diz o Senhor”.
-Isaías
14:22 .No entanto, a apologética cristã fundamentalista
argumenta a favor de uma identificação da passagem com o diabo
bíblico, baseando-se nos versículos 14:12-14, como vemos a seguir:
“Como
caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste
lançado por terra tu que prostravas as nações! E tu dizias no teu
coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o
meu trono; e no monte da congregação me assentarei, nas
extremidades do norte; subirei acima das alturas das nuvens, e serei
semelhante ao Altíssimo”. -Isaías 14:12-14
Como
poderia o rei da Babilônia cair dos céus? Como poderia um mero
homem subir aos céus, acima das estrelas de Deus, acima das alturas
das nuvens, e lá estabelecer o seu trono? Como poderia Nabucodonosor
se tornar semelhante ao altíssimo? Aparentemente esta passagem
bíblica poderia realmente estar descrevendo o diabo bíblico, que
teria fomentado uma guerra civil no céu e sido expulso com um terço
dos anjos por São Miguel Arcanjo.
Ocorre
que, assim como em nossos dias, o uso do recurso literário conhecido
como hipérbole era comum na antiguidade. Em Mateus 23:24, uma
hipérbole é atribuída ao próprio Jesus Cristo:
“Guias
cegos! que coais um mosquito, e engolis um camelo”.
-Mateus
23:24
Não
podemos esperar que Jesus realmente pensasse que os escribas e
fariseus com os quais falava realmente engoliriam um camelo. Trata-se
de um exagero intencional.
Claramente
a passagem bíblica em Isaías 14:12-14 utiliza hipérboles para
descrever o rei babilônico Nabucodonosor como um homem extremamente
orgulhoso e ambicioso, um rei que buscava ser adorado por seus
súditos como um deus. Assim fizeram vários reis da antiguidade.
Assim fez César, seguido por vários imperadores pagãos, e assim
fizeram os faraós. É importante ressaltar que no alvorecer o
planeta Vênus brevemente aparenta ser a “estrela” mais brilhante
do céu, mas logo cai rapidamente abaixo do horizonte. A hipérbole é
uma metáfora da maneira com que o rei Nabucodonosor rapidamente
perdeu seu poderio político.
É
digno de nota, também, que tal não é a primeira vez na Bíblia que
um rei ambiciona alcançar o céu. No mito bíblico da torre de
Babel, em Gênesis 11:1-9, Ninrod tenta construir uma torre alta o
suficiente para alcançar o firmamento, mas fracassa.
Voltemo-nos
então para o Novo Testamento (NT).
A
Bíblia de fato identifica o diabo como “anjo de luz”, na segunda
epístola de São Paulo aos Coríntios:
“E
não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em
anjo de luz”. -2 Coríntios 11:14
A
expressão grega utilizada aqui por Paulo, porém, é “Angelos
phos” que significa “Mensageiro de Luz” “Angel=Mensageiro”
“Phos=Luz” em Grego é Άγγελος του φωτός e não
equivale ao termo Lúcifer, que em grego é “Phosphoros” e
significa“Portador de Luz” “Phos = Luz” “ Phoros =
Portador” que em Grego é Αυγερινός . O uso da expressão
“Anjo de Luz” por Paulo não justifica a identificação do diabo
com o nome Lúcifer. Infelizmente, muitos crentes confundem a
expressão utilizada por Paulo com o termo Lúcifer, e pensam que o
apóstolo se referiu ao diabo de tal maneira. Estão equivocados.
Paulo disse que seus Ministros não têm Justiça assim como o Diabo
se disfarça em “Mensageiro de Luz”, se disfarçar não é ser,
em Apocalipse fala-se de Sete Anjos ou Sete Mensageiros nos mostrando
que a palavra Anjo pode ser aplicada a Mensageiros terrenos como a
mensageiros celestes.
Em nossa língua é tão usual a palavra “Fósforo”, mas nunca nos importamos com o seu verdadeiro significado etimológico, quem compraria uma caixa de lúcifer? Ou caixa de fósforos? Na sua origem são palavras com o mesmo sentido “Portador de luz” diferente de “Mensageiro de luz”.
Em nossa língua é tão usual a palavra “Fósforo”, mas nunca nos importamos com o seu verdadeiro significado etimológico, quem compraria uma caixa de lúcifer? Ou caixa de fósforos? Na sua origem são palavras com o mesmo sentido “Portador de luz” diferente de “Mensageiro de luz”.
Há
apenas uma única passagem no NT que utiliza o termo Lúcifer, no
original grego Phosphoros Trata-se de 2 Pedro 1:19: “E temos ainda
mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos,
como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia
amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações”.-2 Pedro
1:19
Na
tradução de João Ferreira de Almeida para o português, nós lemos
“estrela da alva”, onde em grego lê-se Phosphoros. Vejamos então
como esta passagem se apresenta no latim da Vulgata de São Jerônimo.
Enfatizo aqui a palavra Lúcifer em Letras maiúsculas:
“et
habemus firmiorem propheticum sermonem cui bene facitis adtendentes
quasi lucernae lucenti in caliginoso loco donec dies inlucescat et
LUCIFER oriatur in cordibus vestris”. -Epistola II Petri I:IXX
Nesta
passagem fica evidente o tamanho do equívoco propagado pelas igrejas
cristãs conservadoras, tanto pela igreja Católica como também
pelas evangélicas. Quem lê a Bíblia sabe muito bem a quem 2 Pedro
1:19 se refere: Jesus Cristo. A leitura a partir do versículo 17
explicita isto:
“Porquanto
ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando pela Glória
Magnífica lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho
amado, em quem me comprazo; e essa voz, dirigida do céu, ouvimo-la
nós mesmos, estando com ele no monte santo. E temos ainda mais firme
a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma
candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a
estrela da alva surja em vossos corações”. -2ª Pedro 1:17-19
Quantos
crentes realmente querem que [i]Lúcifer surja em seus corações?[/i]
É
inevitável então, indagar a quem realmente deveria ser atribuído o
título Lúcifer. Seria ao diabo, cuja identificação com o título
no VT é puramente especulativa, de forma ambígua e contraditória
ao contexto da passagem de Isaías? Não deveria pertencer o título
Lúcifer ao único personagem Bíblico teologicamente relevante ao
qual o título é explicitamente atribuído na Bíblia em 2ª Pedro?
No
livro do Apocalipse a identificação de Jesus com Lúcifer fica
ainda mais explícita, embora desta vez sem utilizar o termo
Phosphoros, pois aqui a expressão “estrela da manhã”
encontra-se escrita por extenso no grego:
“Eu,
Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas a favor das
igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente
(Portador de Luz) estrela da manhã”. Apocalipse 22:16
Enquanto
Nabucodonosor foi chamado no VT de Lúcifer devido à velocidade de
sua queda, Jesus no NT é chamado de Lúcifer devido ao seu
esplendoroso brilho. Tudo metáfora. Como Nabucodonosor é um
personagem bíblico teologicamente irrelevante, na Bíblia Jesus
Cristo é o único detentor do título Lúcifer que realmente
importa. No Concilio de Calcedônia existiu um Bispo de nome “Lúcifer
Cagliriare”, se este nome fosse diabólico certamente não lhe
colocariam este nome, Que acham???
O
que escrevi neste ensaio não é novidade alguma. Todos os biblistas
e teólogos de formação sabem disso. Todos os padres católicos,
assim como todos os pastores evangélicos que tenham tido a sorte de
estudar em algum seminário teológico que preste, sabem disso. Quem
não sabe disso é o povão crente sentado nos bancos dos templos.
Infelizmente a maioria dos padres e pastores não têm a mínima
intenção de esclarecer aos leigos que frequentam suas comunidades
sobre equívocos teológicos como este. O título Lúcifer já está
muito enraizado nos corações e mentes dos crentes como sendo um
nome do diabo. Esclarecer que o título de fato pertence a Jesus
Cristo perturbaria a psiquê dos crentes leigos, e colocaria em
dúvida a autoridade dos que os pastoreiam. Se os crentes dependem
tão desesperadamente de certezas absolutas para viver, para quê
perturbá-los com os fatos? E realmente o mundo dito Cristão está
totalmente enraizado em Roma e seus Dogmas, que a palavra da verdade
não pode entrar.
Em
João 8:44 Jesus disse que o Diabo peca desde o seu principio e nunca
se firmou na verdade, sendo assim nunca teve um principio de
santidade.
Lá
no Gênesis foi Deus quem criou o Mal e a Serpente enganosa (Diabo) e
em Isaias 54:16 diz que foi Deus quem criou o Diabo para destruir. Os
textos de Isaias 14 e Ezequiel 28 se referem a dois Reis comparados a
figura da queda de Adão (Rei da Babilônia e Tiro), Ezequiel 28:9
diz “Mas tu és um homem...” o diabo é um homem?!? Adão sim foi
um homem!
Quando
os livros Isaias e Ezequiel no ano de 597 a.c. foram escritos o Diabo
não havia sido lançado fora, o mesmo só foi lançado após Cristo
o vencer na cruz. O que descarta a possibilidade de Ezequiel estar
falando a respeito do Diabo.
João
12:31 Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe
deste mundo.
João
14:30 Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste
mundo, e ele nada tem em mim.
Apocalipse
12: 7 " Então houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos
batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam,
8
mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou no céu.
9
E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o
Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitado na terra,
e os seus anjos foram precipitados com ele.
10
Então, ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a
salvação, e o poder, e o reino do nosso Deus, e a autoridade do seu
Cristo; porque já foi lançado fora o acusador de nossos irmãos...”
Portanto
Isaias 14 e Ezequiel 28 estavam falando a respeito de dois reis
comparados a figura da queda de Adão.O Diabo ainda não fora lançado
fora do Éden.
Ezequiel
28: 14 Eu te coloquei com o querubim da guarda; estiveste sobre o
monte santo de Deus; andaste no meio das pedras afogueadas.
15
Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até
que em ti se achou iniquidade.
16
Pela abundância do teu comércio o teu coração se encheu de
violência, e pecaste; pelo que te lancei profanado, fora do monte de
Deus, e o querubim da guarda te expulsou do meio das pedras
afogueadas.
Embora
existam traduções forjadas, aqui é bem claro, no Éden, Adão
estava junto com o Querubim da guarda e este mesmo Querubim o
expulsou.
Gênesis
3:23 O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden para
lavrar a terra, de que fora tomado...24 E havendo lançado fora o
homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma espada
flamejante que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho
da árvore da vida.
Tanto
Adão como o Diabo estiveram no Jardim do Éden, só que a profecia
de Ezequiel se refere a Adão o qual teve um principio de santidade e
não ao Diabo que segundo Jesus nunca ou jamais se firmou na verdade
e peca desde o seu principio (João 8:44) o Diabo nunca foi Santo e
nunca teve luz., note que após a queda e expulsão de Adão o Diabo
ainda tinha acesso aos lugares celestes, no livro de Jó, Deus
pergunta ao Diabo “De onde vens tu?” e ele responde “De rodear
a terra e passear por ela” naquele momento O Diabo não estava na
terra estava acusando Jó, diante de Deus e seus Anjos e o mesmo
Diabo sendo derrotado por Jesus foi expulso com seus Anjos dos
lugares celestiais somente cerca de 600 anos depois da profecia de
Ezequiel e Isaías, observe que ambos os profetas falaram de alguém
que já havia sido lançado fora do Éden, no caso Adão.
Isaías 5:20
“...Ai dos que põem as trevas por Luz e a Luz por Trevas.” Como
podemos atribuir luz e santidade a um ser que é o Príncipe das
potestades das trevas???
Se
o Senhor o denominou mentiroso e homicida desde o seu principio.
Não
nos seriamos também mentirosos ao lhe atribuir santidade e luz???
Que
Cristo o pai das luzes nos ilumine.
Autor
: Camilo Tadeu Salvador