Uma
pessoa que começa a frequentar ou já frequenta algum templo
Pentecostal e correntes religiosas como a Renovação Carismática
Católica, geralmente sente a necessidade de “falar em línguas
estranhas” ou “falar a língua dos anjos”, pois esta é uma
doutrina dessas denominações. Mas, isso é realmente necessário
para mostrar comunhão com Deus? Ao que parece, pelo menos nessas
denominações religiosas a prática de “falar em línguas
estranhas” é fundamental como uma prova de fé e de comunhão com
o Espírito Santo de Deus. Mas, infelizmente existe um lado triste
dessa questão: as pessoas que não conseguem falar as tais línguas,
ficam aflitas pois presenciam seus irmãos de igreja realizando “tal
feito” enquanto que com elas nada acontece. Por
que estas pessoas não conseguem falar as línguas estranhas ou dos
anjos? A resposta é simples: porque elas são sinceras e não se
deixarem levar por ataques de histeria coletiva.
Nota:
Se você achou pesada a afirmação acima, saiba que não estamos
aqui para passar a mão na cabeça de ninguém, pois precisamos
mostrar a verdade das escrituras, doa a quem doer. Se você é
defensor dessa doutrina de línguas, não se perturbe com esse
artigo, leia até o final, pois Deus quer abrir seus olhos, bem como
o seu entendimento. Se você quiser também, pode deixar sua
contra-argumentação a favor dessa doutrina nos comentários. Nós
responderemos!
Se
voltarmos no tempo – a partir do Éden – veremos que no princípio
da humanidade havia apenas um idioma (língua), na qual Adão e Eva
se comunicavam, além disso, usavam esse idioma para se comunicarem
com o Criador, bem como também, posteriormente, Eva falara com
Satanás na forma de serpente e vice versa. A história da
diversificação da linguagem humana contada pela Bíblia remonta aos
tempos da Torre de Babel(Gênesis 11), a qual foi símbolo de
confusão quando Deus separou os seres humanos por idiomas e os
espalhou pelo mundo. Deus fez isto devido a vontade humana de
gloriar-se a si mesmo em sua capacidade. Ou seja, antes havia apenas
um idioma e todos se entendiam, mas a partir daquele momento, não
seria mais assim. Agora, indo mais á frente – no Novo Testamento –
temos algumas passagens bíblicas sobre os dons que o Espírito Santo
derramou sobre aqueles que se convertiam e se tornavam discípulos de
Cristo – também chamamos isto de “Batismo do Espírito”, e a
passagem mais utilizada para tal é Atos 2:1-12. Um desses dons
dados pelo Espírito Santo é o de “falar
em línguas estranhas“,
ou “falar
em muitas línguas“.
Porém, para Deus sempre existe um propósito em qualquer coisa que
Ele concede ao ser humano e esse dom não é diferente. Nele há um
propósito muito maior do que simplesmente sair falando aos ventos
por ai (ver 1ª Coríntios 14:9). Infelizmente, o pentecostalismo e a
renovação carismática acabaram por se render aglossolalia (um
fenômeno que também é tratado pela psiquiatria), e continuam
gloriando-se justamente naquilo que Deus fez para não se
gloriarem: falar
em línguas estranhas.
A consequência disso é que aqueles que não conseguem “falar
línguas estranhas” ou “língua dos anjos” são vistos
como cristãos de categoria inferior, que não possuem o Espírito
Santo em suas vidas. Há também uma interpretação errônea da
passagem de Romanos 8:9 que nada tem a ver com a questão de falar em
línguas. Aliás, Efésios 1:13 afirma que somos selados pelo
Espírito a partir do momento em que cremos em Jesus e não no
momento em que “falamos línguas estranhas.” Mesmo após
Babel, com tantas línguas diferentes, o homem continuou se
comunicando com Deus sem precisar de intérpretes, bem como Deus e os
anjos continuaram falando aos homens em diversas ocasiões sem
necessidade de tradução. Ou seja, as diferentes línguas são um
problema para quem vive no mundo material, não no espiritual. São
um problema de comunicação entre homens, não entre Deus e os
homens ou anjos e homens. No dia de Pentecostes (Atos 2:1-12) Deus
reverteu temporariamente o que havia feito em Babel, para mostrar que
agora queria que Seu povo pudesse novamente se entender e alcançar
graça. Os discípulos, cheios do Espírito Santo falaram em
diferentes línguas, e judeus de várias nações os ouviram falar
cada um em sua própria língua. Apesar de ter sido algo
miraculoso, o texto deixa bem claro que não há ali
qualquer menção de um idioma angelical ou estranho no sentido de um
idioma espiritual, pois tratava-se de idiomas humanos e a própria
passagem lista as regiões onde esses idiomas eram falados (ver Atos
2:8-11). A ideia de alguém falar a “língua dos anjos” foi
tirada da 1ª carta de Paulo aos Coríntios 13:1. Porém, nesse
texto, Paulo em momento algum afirma ser capaz de falar a “língua
dos anjos“, na verdade ele usa a preposição, uma conjectura:
“ainda que“, tentando explicar através de uma linguagem
simbólica a representação de algo muito maior: o amor. Neste
contexto, aqueles que criaram uma doutrina de “língua ou idioma
angelical” baseando-se no que o apóstolo Paulo falou, ainda
não entenderam o que ele quis dizer e não sabem usar esse
importante princípio de amor. É como uma criança que ganha um
brinquedo e prefere brincar com a caixa. Ainda na 1ª carta aos
Coríntios, capítulo 14, Paulo continua a tratar do tema, na
tentativa de mostrar qual era o verdadeiro princípio e propósito do
dom de línguas, dando também algumas “regras” de conduta
para um uso proveitoso desse dom. 1ª Coríntios 14:2: Neste
versículo não há nada que indique língua dos anjos ou língua
espiritual, mas um idioma desconhecido aos que escutavam. Para ficar
ainda mais fácil de entender, veja um exemplo mais abrangente desse
versículo: Porque o que fala em língua desconhecida (ex: japonês),
não fala aos homens (que
estão ouvindo), senão a Deus (porque Deus conhece todos idiomas),
porque ninguém o entende (em japonês) e
em espírito fala mistérios (porque
está falando japonês com Deus em espírito).– Obviamente, se
algum irmão estiver falando com Deus em japonês, eu não vou
entendê-lo (pois não falo japonês), ou seja, aquele diálogo seria
um mistério para mim, mas não para Deus ou para os anjos, pois o
idioma é algo restrito ao mundo físico, como dissemos
anteriormente. O reino espiritual não tem dificuldade alguma em
entender qualquer idioma humano. O capítulo 14 é bem extenso, por
isso é importante que o leitor veja por si só todo o contexto, pois
vamos tratar apenas de alguns pontos importantes do capitulo. É
interessante também que o apóstolo sempre trata o dom de línguas
como sobrenatural, mas com uso exclusivo as coisas naturais, ou seja,
ele está dando orientações sobre idiomas terrenos, e não
celestiais:Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que
vós todos. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na
minha própria inteligência, para que possa também instruir os
outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. 1ª
Coríntios 14:18-19 A regra direta que toda igreja deveria
seguir: E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso
por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete.
Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale
consigo mesmo, e com Deus. 1ª Coríntios 14:27-28
Nota:
Não existe proibição de falar línguas (1ª Coríntios 14:39), mas
deve-se usar este dom para profetizar, para pregar as boas novas da
salvação e não para gloriar-se a si mesmo perante os outros na
igreja. Existem outras passagens bíblicas que dão a entender que
existe um idioma sobrenatural, ou angelical, e são usadas pelos que
defendem a doutrina do dom de línguas de forma equivocada. Porém,
todos são fáceis de explicar.
Veja:
2ª
Coríntios 12:4 – Mesmo que este versículo esteja falando de
alguma língua angelical (o que não parece ser), também fica óbvio
que o homem está proibido de falar palavras nessa tal língua,
pois“ao homem não é lícito falar“.Romanos 8:26 – Este
versículo não fala diretamente de uma língua, mas de intenções
do Espírito em nós, portanto, esses gemidos não são nossos, mas
do Espírito. O dom de falar em línguas não é prova de comunhão
ou batismo pelo Espírito Santo, pois na Bíblia há vários relatos
de pessoas que receberam o Espírito Santo e não falaram em línguas.
E porque? Porque nestas situações não era necessário, veja alguns
exemplos:Novo Testamento: Lucas 1:15 e 41, Lucas 1:35; Lucas 1:67;
Lucas 3:22; Atos 6:1-7; Atos 6:5, Atos 8:17.Antigo Testamento: Êxodo
31:1-3; Juízes 6:34; Juízes 15:14; lª Samuel 10:10.Ademais, alguém
já viu alguma passagem que mostra Jesus falando em línguas
estranhas ou língua angelical?Não! Ele até poderia se quisesse,
mas não houve necessidade, e nem mesmo Ele quis gloriar-se a si
mesmo.
Referências:
Língua se outros dons de sinais, Gordon H. Hayhoe
Imagem:
Reprodução Google
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